6 de janeiro de 2009

Você bebe?

Belo Horizonte, 7 de março de 2005.

“-Você bebe?”.
A pergunta deixou-me a duvidar da competência do médico que havia procurado, não obstante fosse eu a seus olhos, alguém que naquele momento, representasse apenas mais um mero leigo e desconhecido. O que me encabulava de fato, era que mesmo eu, que à época andava largado ao sabor dos delírios alcoólicos, portanto com o olfato já habituado ao odor que exalava de meus poros, sentia com nitidez neste odor azedo, intrusivo e enfaticamente desrespeitoso de álcool metabolizado por minhas entranhas, e produtor final de um suor amarelado que imprimia inconvenientes manchas em fronhas e lençóis onde descansava desleixadamente o corpo.

Esse pequeno trecho ocorreu em um dos dias que antecederam a um período de tempo em minha vida, aliás um período considerável dela, em que saí de um extremo, aquela circunstância, e muito além dela,meu comportamento compulsivo e exagerado, enfim, estava completamente envolvido pelo álcool , o tipo de adicto que não concebe períodos muito além de uma hora de espaço entre uma ração e outra de destilado. É involuntário, o organismo determina, afinal, ainda que sendo o veneno, é também o antídoto, o que dificulta muito os primeiros dias de abstinência para o tipo de alcoólico que sou (inativo atualmente), encontrava-me em um estágio, onde acordava no meio da noite, e se não houvesse em casa nenhuma espécie de bebida destilada, minha bebida era vodca, procurava ter sempre uma garrafa no congelador com ao menos cinco doses, algumas vezes recorria ao barril, ou carote, como se diz em algumas regiões de Minas Gerais, de cachaça artesanal, no entanto apesar da qualidade, atacava-me o estômago, e seu odor forte por vezes causara-me náuseas, o mais natural era sair andando até um restaurante das cercanias que ficava aberto até de manhã, e beber minhas doses para poder voltar e dormir mais algumas horas. Mas enfim, esse contexto já se alterou e voltou a alterar, à medida que rompia e inaugurava novos ciclos em minha vida, que me punham a passar por altos muito elevados, e baixos muito profundos, enveredando por experiências que promovem um difícil aprendizado, que muitas vezes parece totalmente inútil.

Rodrigo

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