Cheguei correndo, um pouco atrasado. Desci pelas escadas rolantes em meio à multidão de trabalhadores, bêbados, miseráveis, cambistas, traficantes e vendedores de tudo que se possa imaginar. Lembrei de um comentário de um dos meus colegas de infortúnio, que resignadamente incomodado dizia: “Esse lugar agride boa parte, se não, a totalidade dos sentidos...”. Era mais ou menos como me sentia. Agredido. No entanto, esforçava-me para não deixar-me abater.
Por vezes lembro-me de filmes que já vi, sobre momentos históricos de escassez, miséria, fome, desemprego. Filmes a que se assiste com lágrimas e revolta, que retratam guerras e situações de sobrevivência em sociedade, extremadas pela escassez de recursos de subsistência.
Viver em um país de terceiro mundo eternamente em desenvolvimento, assistindo a paradoxos sociais e morais, é pior que qualquer retratação dramática de uma situação similar. Conviver com o descaso que resta aos excluídos, descaso esse em volume colossal e vindo das autoridades bancadas por qualquer cidadão que da sarjeta acenda um cigarro com um fósforo, ainda que cedidos por alguém, considerando que os mencionados produtos são, por lei, taxados com impostos denominados por siglas, letras, de forma a desestimular quem porventura se preocupe em entender o que está pagando, qual porcentagem do valor pago é subtraída e que de fato acaba por pagar a boa vida dessas criminosas autoridades, enquanto a vala comum vai enchendo com os condenados pobres diabos que tiveram a má sorte de estar em lugar e momento errados. Bem, essa situação acaba por dar um nó na cabeça de quem também necessita praticar a arte da sobrevivência no mondo cane, uma vez que ninguém lhe dará nada por seu jeito de boa pessoa ou seus belos olhos caso os tenha, e são muitas as necessidades do humano terráqueo.
Mas voltando ao local onde exercia nessa época, minhas atividades de funcionário do Estado, eis que por fim chego. O destino? Uma pequena saleta de vidros, como uma espécie de aquário, ou redoma, onde parecemos mesmo animais em exposição, rodeados pela platéia mais bizarra que se possa imaginar, e que em determinados momentos entram em cena participando do show de horrores conosco, burocratas em nossas patéticas atividades rotineiras. Nossa função? Explicar o inexplicável. Suavizar a desgraça da realidade com respostas que não convencem nem a nós, e que ao sujeito humilde, pode suscitar expectativas que possivelmente jamais se concretizarão.
Naquele tumulto, reparo os detalhes, observo as pessoas no seu vai e vem. Vejo pés. Milhares de pés, conjuntos e mais conjuntos de ambulantes, muletas, bengalas, sapatos, pés descalços, deformidades físicas provocando náuseas e compaixão. Muita resignação contida em sorrisos banguelas de rostos marcados pelo sofrimento e pela dor. Gente que toca a vida aos trancos e barrancos, e encontrando alívio no amargo remédio da ignorância e do desconhecimento, que os coloca ainda como alvo das raposas parasitas da pobreza e de suas agruras, travestidos de empresários das religiões e igrejas que na verdade, são verdadeiros balcões de negócios para o trato de assuntos divinos pagos com dinheiro mundano, incompreensivelmente sem fins lucrativos, de quem se encontra em tamanha descrença, apostando tudo para amenizar o calvário diário do qual não vê saída.
Mantenho-me ali, numa quietude de metabolismo basal, atento para não voltar aos demais emaranhados de relações humanas, um olhar/estar crítico, rico em associações, dissociações e demais articulações especulativas, enquanto a massa humana espera o próximo ônibus.
Rodrigo
Por vezes lembro-me de filmes que já vi, sobre momentos históricos de escassez, miséria, fome, desemprego. Filmes a que se assiste com lágrimas e revolta, que retratam guerras e situações de sobrevivência em sociedade, extremadas pela escassez de recursos de subsistência.
Viver em um país de terceiro mundo eternamente em desenvolvimento, assistindo a paradoxos sociais e morais, é pior que qualquer retratação dramática de uma situação similar. Conviver com o descaso que resta aos excluídos, descaso esse em volume colossal e vindo das autoridades bancadas por qualquer cidadão que da sarjeta acenda um cigarro com um fósforo, ainda que cedidos por alguém, considerando que os mencionados produtos são, por lei, taxados com impostos denominados por siglas, letras, de forma a desestimular quem porventura se preocupe em entender o que está pagando, qual porcentagem do valor pago é subtraída e que de fato acaba por pagar a boa vida dessas criminosas autoridades, enquanto a vala comum vai enchendo com os condenados pobres diabos que tiveram a má sorte de estar em lugar e momento errados. Bem, essa situação acaba por dar um nó na cabeça de quem também necessita praticar a arte da sobrevivência no mondo cane, uma vez que ninguém lhe dará nada por seu jeito de boa pessoa ou seus belos olhos caso os tenha, e são muitas as necessidades do humano terráqueo.
Mas voltando ao local onde exercia nessa época, minhas atividades de funcionário do Estado, eis que por fim chego. O destino? Uma pequena saleta de vidros, como uma espécie de aquário, ou redoma, onde parecemos mesmo animais em exposição, rodeados pela platéia mais bizarra que se possa imaginar, e que em determinados momentos entram em cena participando do show de horrores conosco, burocratas em nossas patéticas atividades rotineiras. Nossa função? Explicar o inexplicável. Suavizar a desgraça da realidade com respostas que não convencem nem a nós, e que ao sujeito humilde, pode suscitar expectativas que possivelmente jamais se concretizarão.
Naquele tumulto, reparo os detalhes, observo as pessoas no seu vai e vem. Vejo pés. Milhares de pés, conjuntos e mais conjuntos de ambulantes, muletas, bengalas, sapatos, pés descalços, deformidades físicas provocando náuseas e compaixão. Muita resignação contida em sorrisos banguelas de rostos marcados pelo sofrimento e pela dor. Gente que toca a vida aos trancos e barrancos, e encontrando alívio no amargo remédio da ignorância e do desconhecimento, que os coloca ainda como alvo das raposas parasitas da pobreza e de suas agruras, travestidos de empresários das religiões e igrejas que na verdade, são verdadeiros balcões de negócios para o trato de assuntos divinos pagos com dinheiro mundano, incompreensivelmente sem fins lucrativos, de quem se encontra em tamanha descrença, apostando tudo para amenizar o calvário diário do qual não vê saída.
Mantenho-me ali, numa quietude de metabolismo basal, atento para não voltar aos demais emaranhados de relações humanas, um olhar/estar crítico, rico em associações, dissociações e demais articulações especulativas, enquanto a massa humana espera o próximo ônibus.
Rodrigo
Essa da rodoviaria vai ser meu tema de estudo por um bom tempo agora sou garoto leitura do conjunto nacional
ResponderExcluirCamarada, Blaseado em seu comentário fica a dúvida. Pig Face or Rudy Boy, who's the dude? rs. Valeu Bróda, dá uma olhada nas promoções da referida livraria... Té mais dragão!
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