28 de fevereiro de 2009

Eis que de um despertar abrupto...

Terça-feira, 7 de agosto de 2007.
Eis que de um despertar abrupto, aquele despertar que não te situa em lugar nenhum, em tempo nenhum, em dimensão alguma, circunstância que te põe em dúvida, se aquilo que se exibe no panorama aparente, condiz com quem és, te faz recordar algo de sua rotina, ou apenas te confunde e especula com seus limites de delírios e razão.
Uma coisa me pareceu óbvia demais logo que me senti acordado, não era nem de longe meu melhor dia físico, financeiro e emocional. Duelava entre a fraqueza do corpo, a deprê moral de passar um dia dormindo e perder um pouco a noção entre ontem, hoje e amanhã, e a necessidade de cumprir com as obrigações da segunda feira, além da inútil tentativa de querer não querer, o que só “meu eu são” tem poder de fazer.
De um mal estar acordado, a um peteleco no neurônio que estava desligado, repentinamente descambei pra ansiedade, que no recém iniciado script de minha tarde porvir, trombaria pesado com um pequeno pedaço de luz, que quando se fez presente, bambeou geral a pretensa experiência de um aprendiz eloqüente, que levou puxão de orelha pra voltar ao seu lugar, um lugar ainda muito distante daquele, onde possivelmente nem queira chegar.
Nesses momentos contar até dez é pouco, melhor mesmo é se acomodar, ter muita calma
maybe continue com o martelo na bigorna...
Rodrigo

27 de fevereiro de 2009

16 de março de 2008.

Ainda que você
pense o que eu penso
expresse de outra forma

Ou melhor
não pense como penso
em nosso foco coincidente
nossa intersecção divagativa
nosso mote tangente.

Mostra teu trato
apresenta tua marca
esmiúce o fato
apenas com teus dotes e teu jeito
singular, pois que todos somos
exemplares únicos
mesmo em casos
em que cada qual se encontre
meditando em seu canto
e em suas cismas pessoais
talvez nem cheguem a perceber
que suas opiniões
peremptoriamente expostas
como se elo não houvesse
entre os discursos e distúrbios
que cada indivíduo defendia
que suas vozes,
que entoavam desafinos
bem poderiam alardear em uníssono
que suas idéias eram
nunca iguais
que cada indivíduo
é um universo
quando um assunto envolve pessoas
e seus inalienáveis pontos de vista

mas ocorre em determinadas circunstâncias
que pontos de vista
oriundos de focos íntimos e distintos
até pareçam antagônicos
em uma análise limitada
mas que à sombra da razão,
representem assombrosamente
o mesmo

Rodrigo

Brasília, 18 de novembro de 2008.



Algumas coisas que passo pelos dias de minha vida me deixam realmente triste. Sentia já quando criança que ia sofrer, não por uma desgraça ou condição pessoal , mas talvez por acreditar nisso e pela constatação evidente de que tinha problemas de relacionamento e convívio social, tímido extremadamente, meu irmão costumava dizer que eu era mesmo misantropo, o que se justificava pelos meus cacoetes e constrangimentos, pela insegurança e falta de traquejo para lidar com determinadas circunstâncias de cunho social. Em casa, apesar de ser o caçula, éramos mais ou menos, em maior ou menor grau, ao menos tímidos, exceção ao irmão do meio, numa família com três homens, que era o que hoje em dia chamam de tímido espalhafatoso, esse é ele, ainda hoje. Pois bem, minha idade distava um pouco da deles, cinco anos do mais novo e seis do mais velho, o primogênito. O que na infância fazia uma diferença sem tamanho. Hoje pareço eu o mais velho. Sinto-me ao menos, o mais cansado, vagabundo que me digam os esquecidos de seus próprios “eus”, essas pessoas que acreditam me conhecer, sem saber a quem acusam. Hoje é pra mim um dia peculiarmente triste. E não me perguntem o porque, já me fizeram esse questionamento há pouco. Não pude/soube responder. Poderia inventar mil motivos. Mil não, muito mais. Mas não sinto vontade. Aliás, a única vontade que sinto hoje me coloca em xeque como pessoa, como alguém possível de ser considerado. Envolve esse desejo egoísta, tirar uma pessoa especial, de sua vida atribulada, de suas referências do que porventura seja agradável, para exercitando meu evidente egocentrismo, desfrutar com tal pessoa momentos que parecem ser bons para mim apenas. Enfim, esse monte de escatologia abjeta sou eu, assim me considero, portanto, assim sou, fugindo covardemente da realidade que não desejo, que nenhum de nós escolheu, opinou, mas que é imposta e não tenho como me esquivar. Aos olhos críticos de quem tem mais necessidade de apontar defeitos alheios do que meditar acerca dos seus, sou um ingrato. O tipo de pessoa que tem tudo, nunca passou uma dificuldade na vida, e ainda reclama do alto de seu conforto material, ainda que não possua nada de meu. Bem, se fosse me importar com opiniões externas, já teria me internado ou matado. Não sou desse tempo, não sou desse planeta, não quero ser isso aí que vejo, ainda que seja isso uma imposição inesquivável em determinados aspectos. Nada tenho em comum com os preceitos sociais, as leis, os preceitos morais, o consuetudinário que rege meus atos, mas não convence minha forma de enxergar as coisas. Nada. Mas to aqui meio que sem saber por que, e cavando vontade de achar algo que me dê mais motivos que os já surrados “pense em sua filha”, coisa que mesmo inconscientemente, estou sempre fazendo. Mas além de haver argumentos contra esse chavão, porque reparo um certo mal-estar nas pessoas que me rodeiam, por ser como sou, não quero imputar à minha única realização importante e que me é tão inigualavelmente preciosa, minha filha, a responsabilidade de me erguer e reerguer de meus fracassos e frustrações. Quero que ela se ocupe de ser feliz, uma pessoa diferente da que sou, segura, forte e ciente do que desejará para sua vida. Que não se apegue, e que nunca sinta a dor que defino como "dor da existência", que tantas vezes me martirizou e para a qual só o tempo e o equilíbrio emocional suficiente para aguardar o cessar dessa dor, são possíveis remédios. Eis aí minha peçonha.
Rodrigo

15 de junho de 2008.



Sim, por certo a sensação restritiva e impossibilitante provocada pela falta do vil metal, que em minha opinião, mais destrói do que erige coisas belas, é a mesma sensação que desperta em mim os sentimentos de depressão, angústia e toda a sorte de pensamentos dolorosos, martirizantes e desconfortavelmente aderentes que me rodeiam.
Venho já há um bom tempo fazendo uso contínuo de medicamento antidepressivo, e já pude perceber que coincidentemente ou não, quando ele me falta (seja por ausência de receita ou de grana), todas essas sensações são elevadas a potências que se intensificam em progressão geométrica de velocidade, chegando a atingir o ápice de minha angústia, cujo sintoma que mais me deixa combalido é a anulação total da minha já depredada auto-estima, sintoma despertado pela certeza que ocupa meus pensamentos de maneira invasiva e imperativa, de que vivo mais para atormentar as pessoas que me cercam, aquelas que nutrem por mim algum carinho ou apreço, do que para dar apoio e amparo a esses entes com quem convivo. A partir deste ponto, não tardo a concluir peremptoriamente, que ajudo mais morto do que coexistindo com os incontáveis mortais realmente importantes, pela maneira como se destacam ou não, mas que aparentemente não interferem de forma tão visceralmente nociva, marcante nas sensações de alegria e demais estados de felicidade e euforia, assim como de dor e de angústia, que quando expostas de forma enfática como que numa resposta direta à minha repreensível figura, arrombam com tanta violência os poucos espaços vazios que me sobram de abrigo, que preenchem o que resta de oco em minha memória já repleta de culpas e fracassos.
A carga chega a trespassar o limite do suportável, as válvulas de escape que escolho tendem a intensificar a ira de meus demônios interiores, e a arruinar de vez as esperanças, que à revelia de minha vontade, foram em mim depositadas com a certeza de quem não quer enxergar o óbvio, nessas situações percebo que sou fraco, que ainda não estou preparado para atender aos planos que pessoas já sofridas e amarguradas pelos meus atos projetaram para mim como o milagre divino ou a tábua da salvação. Aparece aí neste ponto, que as normas vigentes foram engendradas há séculos e séculos no passado, e que de fato não somos donos de nada, a menos que vistamos o uniforme do único time vencedor, aquele que se encontra enquadrado, já adaptado aos moldes referenciais de sucesso e status quo vigentes, e o fato é que não me enquadro, não por algum ideal romântico e pueril, não gosto de sofrer, nem procuro sofrer em minha busca pela minha plenitude existencial, nem tampouco é meu desejo impingir sofrimento a quem quer que seja com minhas peculiaridades existenciais, meus atos e jeito de ser despojado e de hábitos estigmatizados e sob certos aspectos, questionáveis, apenas não vejo sentido nessa “realidade” belicosa, que atropela tudo em prol de um suposto equilíbrio da paz mundial, ainda que a paz e a tão sagrada democracia norte-americana sejam impostas sob chuvas de armamentos cada vez mais precisos, mas que ainda assim continuam a bombardear aldeias de civis inocentes, além dos próprios aliados, quando não compatriotas. Pensando um pouco, lendo, meditando e recordando tudo que ocupa meus textos, minha vida, e minhas idéias e esperanças, chego à triste conclusão de que não vamos ao primeiro degrau de onde poderíamos chegar com todo potencial que no mesmo momento em que sabemos, existe em todo ser humano, parece cada vez mais débil em cada um de nós.


Rodrigo

20 de fevereiro de 2009

Dia difícil...

Brasília, 07 de fevereiro de 2007.

Alguns dias nos trazem o sentimento de que se pudéssemos reverter a sentença definitiva da morte, valeria a pena passar uns tempos morto, ou morfético, entregue aos reinos de Morfeu. Entretanto o cronograma que passo a narrar foi, lastimavelmente, um dia que suscitou tal desejo. Acordar era só problema, dormir era só terror, pânico e pesadelo, mas como vez por outra nos vemos diante desta situação nada agradável, de ter que correr atrás, por que senão, seu nome é morto inda que escrito, tratei de ignorar todas as confusas e conflitantes sensações que se aglomeravam ao redor de minha cabeça, desviando a atenção necessária à execução de tarefas práticas ou objetivas, por assim dizer, e fui tentando não entrar em desespero, na frenética corrida atrás do Deus subjugador e cruel, que ao invés de acolher e orientar, trata com desdém os pobres mortais que dele não dispõe sequer para obter a felicidade não padronizada, e por vezes humilde.
Nada ajudava, o tempo sombrio que não deixava margem à especulação de quê período do dia estava acontecendo, suor descendo em bicas, e uma irritação incontida que acabava por aumentar ainda mais a sudorese. Precisava de um espelho, uma pia, assoar o nariz, e por não estar nem um pouco próximo de casa, e já sentir o anúncio de que meu intestino estava dando nós, causando um desconforto aliado a uma tremenda insegurança de não conseguir segurar a disenteria iminente, tratei de ser o mais objetivo possível, se tenho que ir a um banheiro público, que seja no templo do consumo contemporâneo, um bom e velho Shopping Center, daqueles cuja taxa de condomínio deve ser alta o suficiente para arcar com uma boa higienização dos banheiros, que nestes nichos costumam atender também pelos nomes de “sanitário” ou “toilette”, e onde certamente não iria gastar um centavo, considerando que as lojas ostentam produtos acima da faixa dos escassos recursos que tenho, e também por não sentir que nada nesses locais seja prioridade de consumo, ao menos para mim.
Há uma coisa que me atrai nesses ambientes, apesar de ser um sujeito tímido e bastante recatado, não consigo deixar de reparar nas belas figuras femininas que ali desfilam seus estereótipos, ou que apenas vestem um uniforme e vão trabalhar em alguma dessas lojas, onde uma peça pode chegar a valer meses de trabalho daquela personalidade repleta de incertezas, ou certezas equivocadas, anseios e dores, e toda a sorte de sentimentos que um ser humano pode carregar consigo, ainda que deles não se dê conta. Em certas ocasiões, chega a causar-me excitação aquele desfile sortido de jeitos e trejeitos, peitos, coxas e bundas, olhares, sorrisos, expressões, figurinos, e toda sorte de variação possível, desde que se tenha em mente o fato de que não há uma pessoa idêntica a outra, e cada ser humano é um universo em seu interior.

Rodrigo

Grafar verbetes

Brasília, 28 de agosto de 2007.

Grafar verbetes em um papel, sem compromisso gramatical, tendo por objetivo pura e simplesmente, organizar o ulular de idéias, muitas delas relevantes para alguém (ainda que somente eu lhes dê relevância), outras tantas tampouco importantes, mas presentes, uma vez que o pavio já acionado desencadeia o processo, que tem origem nos sentidos, organizados por algum hemisfério cerebral, que através de processos metabólicos, que abrangem aspectos físico-químicos que por sua vez provocam reações, como esta tal proposta, grafar verbetes, oriundos dos sentidos, que por processos de metáforas, tanto químicas como fisicamente metabólicas, deflagram um estouro, que impulsiona tais idéias, ativando ferramentas como o braço, a mão, coordenação motora e da razão, motivo pelo qual digo: “-Às favas com a gramática!” Pois que nesses tais momentos, excreto tudo que penso, seja de utilidade prática ou não, como nos “recreios” da razão, em um bar com uns amigos, conversar descontraído, sem importar se o assunto faz parte do conjunto que acrescenta algo ao seu cabedal de referências, ou como é mais recorrente em tais casos, estabeleça-se aquela comunicação que objetiva o prazer, rir sem ao menos perceber que a piada que nesse momento ouve, já fora semana passada, e na outra, e nas demais, talvez até mesmo meses, anos, certamente há um bom tempo atrás, enfim, já não era nenhuma novidade, nem para ele, ou aquele, ou os demais da cidade, mas que a razão entorpecida por lapsos temporais, não se importa e nem sente nenhum constrangimento, em apagar alguns instantes para conforto do pensar e ao término da já surrada anedota, gargalhar hipnotizado, como se nunca houvesse ouvido algo mais cômico, que aquele conveniente esquecimento propiciou, afinal, causo tão bom como este, que deflagre em alto e bom som a espalhafatosa e incontrolável risada advinda de um largo e aberto sorriso, que a razão, entorpecida, não pré-julgou, não rotulou, e também não inibiu, aquela cena engraçada, uma mais que espontânea demonstração de bom-humor, surgida aparentemente do nada, mas que como dizem poetas, alegrias passageiras, entremeadas em tristezas rotineiras, e essa cena se esvai, a razão desperte e encaminhe sua sina, seus hábitos, trajetos, trejeitos e manias, te encaixando novamente, de modo tão sutil, que por vezes nem se sente, que já está dentro de novo, do mesmo ciclo vicioso, o dia a dia, o horário, o batente, apagando aquele sorriso, emudecendo a gargalhada de outrora, e transformando aquela espontânea alegria, em uma fuça medonha e sombria, que de tão embrutecida, já nem demonstra sentimentos, olha pra tudo ao seu redor, buscando alguém que transpareça uma dor, mais profunda que a dele, o que já é uma tarefa fracassada, pois aquele pobre diabo não quer ver nada, portanto nada compara-se à sua dor, que amalgamou-se em sua vida, mas que ao menos um dia futuro, volte a viver, ao menos aqueles momentos, em que o conforto dispensa o saber.
Rodrigo...

18 de fevereiro de 2009

Para ninguém entender

Brasília, 28 de setembro de 2003.


Não consigo pensar num dia que não seja hoje. Ainda que um hoje comodamente disfarçado de ontem, ou pretensiosamente travestido de amanhã. Palavras e tempo brincando conosco como gnomos, primeiro de abril eterno: "Já não se fala mais a verdade nesses dias da mentira..."

Um trote, um mote, um monte de merda. Já não sinto mais pena da morte. Ao menos não no dia em que vier me encontrar. Essa cafetina que leva tudo que acreditamos ter, com a prerrogativa de quem encarna nossa única certeza, e a honestidade de quem não se esconde de ninguém.

Rodrigo

12 de fevereiro de 2009

Sofro sem te tatear...
Tatear teu torso,
teu traseiro,
tuas tetas...
Tatear teu corpo inteiro

tatear a tatuagem
que se esconde atras de ti
entre os cabelos
que te escorrem da cabeça
e que tateiam a ti também...

3 de novembro de 2008.


Rodrigo

6 de fevereiro de 2009

10 de março de 2005.

Por um momento hoje, pensando sobre a ansiedade que sinto, veio-me à cabeça uma recordação, ou melhor, uma sensação vívida, , estimulada pela audição de uma coletânea de músicas que ouvia à exaustão ( e com o surgimento do compartilhamento de arquivos via internet, voltei a ouvir em demasia) em minha adolescência, que parece me acompanhar ainda hoje em determinadas circunstâncias. Voltei a sentir aquela sensação quase orgásmica para um adolescente rebelde, puro e besta, de sentir-se no palco, à frente de uma banda de rock'n'roll animal!!! Mulheres deliciosas aos meus pés, cheio de caretas e performances de rocker... impossível conter um riso pensado, performance em palco eu!? Só consigo imaginar de olhos fechados ou bêbado como costumava manter-me à época em que mais me dediquei a um conjunto, que por sinal não teve nenhuma aparição no "cenário", hehe, "panorama" do rock brasiliense da época, como ouço alguns garotos dos dias globalizados de hoje, falando em tom de âncora da MTV. Ainda assim, me orgulho de ter dedicado tempo e fígado à isso. Sempre quis ser músico, sempre ouvi música, dos mais variados tipos, desde a infância, num quarto da casa onde morávamos, uma espécie de biblioteca, escritório de meu pai mas que vivia tomado mesmo por nós. Eu e meus irmãos. Havia um motivo para isso, em forma de móvel de parede, comprido e baixo, em madeira, e que contava com duas portas que se abriam à frente, cada qual para um sentido inversamente oposto, e abertas exibiam um rádio antigo, e espaço para LPs. A vitrola aparecia ao levantar uma porta que ficava em cima à direita do "móvel", ali escutava os discos de meu pai, coleções de MPB e ópera que eram vendidas nas bancas de revistas. Adorava ficar ali, imaginava mil histórias, sempre rodeado de música, lembro de ficar completamente obcecado por algumas, a ponto de após terminar de ouvi-las (cada qual em seu tempo, óbvio), levantava o braço do toca-discos e voltava ao início da faixa às vezes por dez, quinze vezes, até que me sentisse saciado de ouvir detalhadamente a música que me ocupava naquele momento.

Continua...

Rodrigo