13 de março de 2010

Mataram o Glauco!


Por volta de uma da tarde de ontem, fui buscar minha filha na escola. Íamos almoçar juntos em algum lugar e precisei passar no banco pra sacar dinheiro. Olhei pra minha filha e quando vi aquela mocinha tão linda e lembrei do mundo cão, disse a ela:

- Filha, a cidade anda muito violenta, a gente não pode descuidar, sei que parei o carro um pouco longe, mas queria que me acompanhasse, porque hoje em dia, se te deixo aqui sozinha e vou sacar dinheiro, não é absurdo pensar que podem te abordar, e saindo do banco... Num gosto de ser histérico, mas as coisas tem acontecido por aí...

Ao sair do carro, atravessar a rua e entrar no banco, meu celular tocou, atendi, era um amigo que disse:

- Rodrigão, notícia ruim. Mataram o Glauco!

Estava com a cabeça distante, não me passaria a idéia de que fosse o criador do Geraldão, Doy Jorge, casal Neuras. Imaginei alguém do círculo de amigos, apesar de não lembrar de nenhum Glauco entre os mais presentes. Cheguei a perguntar:

- Eu conheço?

Ao que veio a resposta:

- Porra! O Glauco do Geraldão, das tirinhas. Assassinaram ele e o filho!

Fiquei pasmo. Aquela conversa que tive com minha filha, logo ali, e a notícia de um evento tão estúpido, um ato de violência fútil que nenhum motivo justificaria. Esse tipo de acontecimento sempre me deixa triste, amargurado. Cheguei em casa e fui ler sobre o caso na internet, e reparei que o número de visitas do meu blog tinha estourado quase no dobro do máximo a que chegara em seu ano de existência. Comecei a ler sobre o ocorrido, e reparei que de pouco em pouco tempo, cada página soltava informações diferentes umas das outras, e as versões iam ganhando rumos diversos também. Me aborreci com aquilo, e fui ver o que havia ocorrido pra ter tantas visitas no Peçonha. Reparei que a enorme maioria delas, vinha de pesquisas na net sobre o Glauco e seus personagens, e que eram breves as visitas. É que ano passado, postei duas tirinhas do Geraldão, que agora estavam sendo procuradas. Aí lembrei dessa curiosidade mórbida que parece atrair mais pessoas que novela, futebol e mulher pelada. Há aparentemente, uma ânsia por desgraças. Se há um acidente de trânsito, e um corpo embaixo dum lençol na rua, já é motivo pra haver alvoroço, chegando a atrapalhar o trabalho de bombeiros e polícia, que são responsáveis por prestar socorro nesse tipo de situação, e quem está tentando chegar em casa, no trabalho ou ao seu destino, qualquer que seja ele.

Quando uma tragédia como a que ceifou a vida de Glauco e de seu filho ocorre, os jornais bombardeiam seu público, parecendo querer extrair cada minuto de atenção através daquela triste demonstração de que o ser humano não dá valor ao ser humano. Quem sequer imaginava quem diabos era o Glauco, já torna-se especialista, e o assunto vira tema em repartições, botequins, cabeleireiros, filas... Vejo a humanidade como uma grande massa de espectadores ansiosas por um rumo, um motivo, um assunto. E nessa realidade, onde a existência humana foi vinculada indissolvivelmente à economia, as pessoas parecem esquecer que o ser humano, também é gente. Sente dor, sofre. Somos de carne, osso e sentimentos, profundamente egoístas, e preferimos lembrar das pessoas pelos seus hábitos, manias, defeitos, do que pelo que realmente são.

Era um assíduo leitor das revistas do geraldão quando elas circulavam. Tinha uma enorme simpatia pelo Glauco, achava o humor dele especial, sarcástico, cru. Apontava essas pequenezas do ser humano com uma espirituosidade ímpar. Fiquei muitíssimo triste com sua morte e a de seu filho, pelo que tudo parece, por um comportamento imbecil da parte de outros seres humanos. Não me interessam os motivos, não vou ficar de hora em hora lendo outra versão da notícia, mas desejo de todo coração, que sua viúva e mãe do rapaz que teve o azar de aparecer em um momento de tamanha obtusidade, consiga ter forças e ache motivos, para se consolar de algo tão visceralmente triste.

Não tenho muita crença, mas acho que passou muito da hora de abrir os olhos do mundo, e ver que se a economia será o foco e motivo da existência, ela se dissolverá afogada no próprio sangue, mas de que importa isso?

Salvem o planeta da forma que é possível salvá-lo, tirando o foco da economia, e voltando-o às pessoas, pois enquanto arrastarmos os erros do passado, transformando-os em regra, reproduziremos o mesmo tipo de gente estúpida, que com certeza acabará com a existência e o planeta.

Rodrigo.

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