O ESTADO DE SÃO PAULO, 15.03.1996 / Caderno 2
Lewgoy ajuda a revigorar o cinema nacional
Aos 75 anos, o ator vibra com os novos rumos da arte no País
e participa de muitas produções
BETH NÉSPOLI - Especial para o Estado
Lewgoy ajuda a revigorar o cinema nacional
Aos 75 anos, o ator vibra com os novos rumos da arte no País
e participa de muitas produções
BETH NÉSPOLI - Especial para o Estado
RIO - Aos 75 anos, José Lewgoy poderia perfeitamente representar o papel do velho ator que passa os dias escrevendo suas memórias. No entanto, o clima de sereno recolhimento passou longe desse gaúcho temperamental e impaciente que há décadas mantém uma agenda repleta de compromissos com a televisão e o cinema brasileiro.
No carnaval, Lewgoy gravou uma participação especial na novela Quem É Você, na TV Globo. No dia 3, viajou para o Festival de Cartagena, na Colômbia, onde ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante por sua participação em O Judeu, de Jom Tob Azulay. Ele também concorreu com O Quatrilho, de Fábio Barreto.
Em abril, está de volta para participar das filmagens de A Hora Mágica, de Guilherme de Almeida Prado. No ano passado, atuou em O Monge e a Filha do Carrasco, filme dirigido por Walter Lima Júnior e produzido por Jofre Rodrigues, que já o convidou para sua próxima produção - Vestido de Noiva. Lewgoy revela ainda "estar nos planos" do diretor Paulo Thiago, que começa a filmar em breve Policarpo Quaresma, Herói do Brasil, com roteiro de Alcione Araújo baseado no romance de Lima Barreto.
Sem dúvida, o cinema brasileiro apenas tem a ganhar utilizando o talento e a rara experiência desse ator. Mas é uma pena que tanta agitação acabe impedindo que Lewgoy concretize seu desejo de escrever uma autobiografia. Afinal, por meio de sua história, o público conheceria também boa parte da história do cinema brasileiro - desde as chanchadas da Atlântida, passando pelo Cinema Novo, até as mais recentes produções. Ele trabalhou também com cineastas estrangeiros, como Werner Herzog e Paul Mazursky.
As memórias do ator também revelariam sua sólida e sofisticada formação cultural - uma faceta desconhecida por boa parte de seus admiradores. Lewgoy fala fluentemente francês, inglês, italiano, espanhol, além de "um alemão que dá para o gasto". Pretende ainda estudar japonês. Formou- se em Arte Dramática na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e demonstra amplos conhecimentos de literatura e dramaturgia.
Nos anos 40, em Porto Alegre, Lewgoy trabalhava como tradutor na editora Globo, onde mantinha estreita convivência com escritores do porte de Mário Quintana. Nessa época, já era formado em Ciências Políticas e Econômicas.
Em 1947, traduziu, dirigiu, desenhou os cenários e interpretou O Viajante sem Bagagem, de Jean Anouilh. Na estréia, Érico Veríssimo, seu colega da editora Globo, compareceu acompanhado do adido cultural norte-americano, o que lhe valeu uma bolsa de estudos para Yale.
De volta ao Brasil, em 1949, fez o primeiro de uma série de vilões na Atlântida, no filme Carnaval no Fogo, dirigido por Watson Macedo, considerado o mestre da chanchada. Até 1954, quando foi morar na França, Lewgoy trabalhou em inúmeros filmes, entre eles as primeiras paródias a produções de Hollywood, dirigidas por Carlos Manga, como Carnaval na Atlântida. Recentemente, voltou a trabalhar com o diretor na minissérie Engraçadinha, de Nélson Rodrigues.
Quando retornou da França, em 1964, além de trabalhar em teatro e no jornal O Pasquim, Lewgoy inaugurou, com O Bofe, uma bem-sucedida carreira nas telenovelas. Em 1983, no último dia de gravação da novela Louco de Amor, em que seu personagem Edgard fazia enorme sucesso, Lewgoy sofreu um grave acidente de carro, causando comoção nacional. Como bom gaúcho, saiu numa cadeira de rodas do hospital para gravar cenas do O Beijo da Mulher Aranha, de Hector Babenco.
José Lewgoy (1920-2003). Gaúcho de Veranópolis, era o caçula de oito irmãos, filho de uma americana e de um russo.
Publicado em:
http://www.cinemabrasileiro.net/joselewgoy.html
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