27 de fevereiro de 2009

Brasília, 18 de novembro de 2008.



Algumas coisas que passo pelos dias de minha vida me deixam realmente triste. Sentia já quando criança que ia sofrer, não por uma desgraça ou condição pessoal , mas talvez por acreditar nisso e pela constatação evidente de que tinha problemas de relacionamento e convívio social, tímido extremadamente, meu irmão costumava dizer que eu era mesmo misantropo, o que se justificava pelos meus cacoetes e constrangimentos, pela insegurança e falta de traquejo para lidar com determinadas circunstâncias de cunho social. Em casa, apesar de ser o caçula, éramos mais ou menos, em maior ou menor grau, ao menos tímidos, exceção ao irmão do meio, numa família com três homens, que era o que hoje em dia chamam de tímido espalhafatoso, esse é ele, ainda hoje. Pois bem, minha idade distava um pouco da deles, cinco anos do mais novo e seis do mais velho, o primogênito. O que na infância fazia uma diferença sem tamanho. Hoje pareço eu o mais velho. Sinto-me ao menos, o mais cansado, vagabundo que me digam os esquecidos de seus próprios “eus”, essas pessoas que acreditam me conhecer, sem saber a quem acusam. Hoje é pra mim um dia peculiarmente triste. E não me perguntem o porque, já me fizeram esse questionamento há pouco. Não pude/soube responder. Poderia inventar mil motivos. Mil não, muito mais. Mas não sinto vontade. Aliás, a única vontade que sinto hoje me coloca em xeque como pessoa, como alguém possível de ser considerado. Envolve esse desejo egoísta, tirar uma pessoa especial, de sua vida atribulada, de suas referências do que porventura seja agradável, para exercitando meu evidente egocentrismo, desfrutar com tal pessoa momentos que parecem ser bons para mim apenas. Enfim, esse monte de escatologia abjeta sou eu, assim me considero, portanto, assim sou, fugindo covardemente da realidade que não desejo, que nenhum de nós escolheu, opinou, mas que é imposta e não tenho como me esquivar. Aos olhos críticos de quem tem mais necessidade de apontar defeitos alheios do que meditar acerca dos seus, sou um ingrato. O tipo de pessoa que tem tudo, nunca passou uma dificuldade na vida, e ainda reclama do alto de seu conforto material, ainda que não possua nada de meu. Bem, se fosse me importar com opiniões externas, já teria me internado ou matado. Não sou desse tempo, não sou desse planeta, não quero ser isso aí que vejo, ainda que seja isso uma imposição inesquivável em determinados aspectos. Nada tenho em comum com os preceitos sociais, as leis, os preceitos morais, o consuetudinário que rege meus atos, mas não convence minha forma de enxergar as coisas. Nada. Mas to aqui meio que sem saber por que, e cavando vontade de achar algo que me dê mais motivos que os já surrados “pense em sua filha”, coisa que mesmo inconscientemente, estou sempre fazendo. Mas além de haver argumentos contra esse chavão, porque reparo um certo mal-estar nas pessoas que me rodeiam, por ser como sou, não quero imputar à minha única realização importante e que me é tão inigualavelmente preciosa, minha filha, a responsabilidade de me erguer e reerguer de meus fracassos e frustrações. Quero que ela se ocupe de ser feliz, uma pessoa diferente da que sou, segura, forte e ciente do que desejará para sua vida. Que não se apegue, e que nunca sinta a dor que defino como "dor da existência", que tantas vezes me martirizou e para a qual só o tempo e o equilíbrio emocional suficiente para aguardar o cessar dessa dor, são possíveis remédios. Eis aí minha peçonha.
Rodrigo

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