30 de agosto de 2009

Veneno/Desprezo x Vida/Amor


*“Mitrídates VI (em grego, Μιθριδάτης) (132–63 a.C.), chamado Eupátor Dionísio, também conhecido como Mitrídates, o Grande, foi rei do Ponto de 120 a 63 a.C. na Anatólia e um dos mais formidáveis e sucedidos inimigos de Roma, havendo enfrentado três dos melhores generais romanos da baixa República.
Há duas lendas curiosas a respeito de Mitrídates VI do Ponto. Supostamente, sua prodigiosa memória lhe permitia falar vinte e cinco línguas, de modo que podia comunicar-se com cada soldado de seus grandes exércitos no seu próprio idioma. Devido a esta lenda, certos livros que contêm excertos de muitas línguas chamam-se “Mitrídates”.
A segunda lenda relata que Mitrídates VI procurou imunizar-se contra um eventual envenenamento, tomando doses crescentes (mas nunca letais) dos venenos de que tinha conhecimento, até que fosse capaz de tolerar até mesmo uma dose mortal. Alguns chamam esta prática de “mitridatismo” (ver Houaiss). Conforme a lenda, após ser derrotado por Pompeu, Mitrídates tentou o suicídio por envenenamento, sem efeito devido a sua imunidade. Teria, então, forçado um de seus servos a matá-lo à espada. Esta história é contada na peça Mitrídates (1673), de Racine, e na ópera Mitridate, re di Ponto (1770), de Mozart.”

* Texto extraído de WIKIPÉDIA. Desenvolvido pela Wikimedia Foundation. Apresenta conteúdo enciclopédico. Disponível em:
.http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Mitr%C3%ADdates_VI_do_Ponto&oldid=16382457
Acesso em: 30 ago. 2009


Tenho pensado muito, sobre o caráter (mau), por vezes bastante cru e exagerado, de manifestar idéias e sentimentos pessoais, que percebo em alguns de meus textos quando os releio aqui no Eu em Peçonha.
Cheguei à conclusão de que, o título do blog, me parece a cada dia mais adequado. Acredito nisso, porque quando me sinto deprimido, ou tomado por sentimentos que odeio vincular à minha pessoa, sinto um alívio sincero, ao tentar esquecer esse sentimento através de meus textos, meus exercícios de escrita. Sinto que eles me tiram, ao fim, o efeito nocivo desse sentir, e consigo com isso, não me transformar no "guarda-roupas de mágoas" que sempre busquei evitar tornar-me, porque acredito que, ocupar espaço valioso de nosso intelecto, com pensamentos baixos direcionados a outras pessoas, é algo de uma estupidez nociva. Uma verdadeira peçonha, que acaba por exercer seu efeito tóxico, não no objeto desse rancor, ou seu suposto alvo, mas em nós, que nos provemos de veneno, solitariamente.
A tal peçonha, acaba por fim, manifesta em alguns desses textos expurgatórios, que, exagerado, busco rechear com vocábulos, expressões, suposições e composições semânticas. Essa prática, acaba por se tornar uma espécie de terapia. Pois observo que, além de tudo, me permite rever momentos e sentimentos pelos quais passei. E tenho certeza de que, a análise dos fatos, quando isenta do fator emotivo que surge no calor do momento, possibilita uma melhor compreensão, e para quem deseje viver por algum motivo que não o manifesto nas vaidades pessoais, um excelente resultado pessoal, advindo do benéfico exercício da autocrítica.
Dito isso, vamos ao motivo que me levou a citar Mitrídates, no início deste texto, e a peçonha existente em alguns dos demais, aqui postados.
Avalio que, o nocivo sentimento, e a dolorosa percepção do desprezo, quando este é proveniente justamente, de quem aparenta sentir algum apreço pelo outro, no caso do relacionamento entre duas pessoas, acaba por destilar o veneno, capaz de transformar tudo de bom que aquele relacionamento proporcionou, em trauma e conseqüente aversão a esse bom sentimento que intercalava os referidos momentos de desprezo.
Seria uma espécie de "alquimia do mal". Uma fórmula capaz de transformar amor em ódio, e a possibilidade de amar, numa atitude perigosa e questionável. Algo que não se deve buscar, e, se possível, fugir. O desprezo impõe uma dor desnecessária, já que a verdade e os bons preceitos da consideração e sinceridade, resolvem muitas dessas situações, de maneira equilibrada e evolutiva, por trazerem transparência aos gestos e atitudes das pessoas, e promoverem a confiança necessária aos relacionamentos pessoais. Isso, mesmo considerando que, por vezes, a verdade impõe também, muita dor. Mas ao menos, nos afasta da esperança, o que nos impede de amargar, com um envolvimento maior, e a consequente elevação do sofrimento. Mas quando alguém alterna o modo de se comportar em relação ao outro, entre demonstrações intercaladas com freqüência rígida e inflexível, de amor e desprezo, fica extremamente difícil, não confundir completamente, quem acaba por se sentir, estupidamente sincero. Sinceridade não deveria, nem de longe, aparentar estupidez.
É como a imunidade desejada por Mitrídates, que buscava evitar a morte por envenenamento, ao consumir doses pequenas, porém frequentes do mesmo. Amar a quem lhe responde com essa mistura de atitudes, num momento se entrega, em outro ignora, é como ter, no desprezo que recebe, o antídoto que irá lhe salvar, do amor que o condena. E no amor, esse sentimento que faz os tolos tão sofridos, vazios e patéticos, enxergar a morte, da qual precisa ser salvo. Há de se convir, que tal sofrimento pode ter sim, seu aspecto benéfico. Mas quem sofre por questões sentimentais, sofre já o suficiente, para que precise passar por mais esse agravante, o desprezo, esse catalisador do martírio.
Ao fim, concluo que me faz muito bem jogar o veneno no texto, e seguir com a vida, sem desejar mal a ninguém. Muito mais importante, é tratar de ser feliz, único motivo da existência humana, nas palavras de Raul Seixas. Não à toa, foi considerado maluco.

Rodrigo

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