Considerações pessoais e autocríticas sobre o amor
amor
• substantivo masculino
1. forma de interação psicológica ou psicobiológica entre pessoas, seja por afinidade imanente, seja por formalidade social
2. atração afetiva ou física que, devido a certa afinidade, um ser manifesta por outro
3. forte afeição por outra pessoa, nascida de laços de consangüinidade ou de relações sociais
4. atração baseada no desejo sexual; afeição e ternura sentida por amantes
5. Derivação: por extensão de sentido.
relação amorosa, aventura amorosa; caso, namoro
Ex.: sabíamos tudo sobre os seus a.
6. Derivação: por extensão de sentido.
atração sexual natural entre as outras espécies animais
Ex.: a regra do a. entre as araras é a fidelidade
7. Derivação: por metonímia.
o ato sexual
Ex.: fizeram a. naquela noite
8. afeição baseada em admiração, benevolência ou interesses comuns; calorosa amizade; forte afinidade
Ex.: a. pelos antigos colegas
9. Derivação: por extensão de sentido.
força agregadora e protetiva que sentem os membros dos grupos, familiares ou não, entre si
Ex.:
10. Derivação: por metonímia.
a pessoa ou a coisa amada ou apreciada (tb. us. no pl.)
Ex.:
11. comunhão íntima, coesão com o universo, com ou sem conotação religiosa
12. Rubrica: religião.
Deus como princípio dessa coesão universal
Ex.: supremo a.
13. Rubrica: religião.
sentimento como de afeição e benevolência paterna atribuído a Deus em relação aos homens
Ex.: a. de Deus, a. divino
14. Rubrica: religião.
devoção afetuosa devida a Deus por suas criaturas
15. Rubrica: religião.
sentimento de caridade, de compaixão de uma criatura por outra, inspirada pelo sentido de sua relação comum com Deus
Ex.: a. ao próximo, a. pelos pobres
16. Derivação: sentido figurado.
devoção de uma pessoa ou um grupo de pessoas por um ideal concreto ou abstrato; interesse, fascínio, entusiasmo, veneração
Ex.:
17. Derivação: por metonímia.
o objeto de tal interesse ou veneração
Ex.:
18. demonstração de zelo, dedicação; fidelidade
Ex.:
19. ambição, cobiça
20. Rubrica: mitologia.
um deus ou a personificação do amor [Cupido (na Grécia, Eros), Vênus (na Grécia, Afrodite)]
21. Rubrica: mitologia.
cada uma das divindades infantis subordinadas a Vênus e a Cupido
amores
• substantivo masculino plural
1. Diacronismo: antigo.
galanteios, expressões amorosas
2. Rubrica: angiospermas. Regionalismo: São Paulo.
m.q. carrapicho (Desmodium discolor)
3. Rubrica: angiospermas.
m.q. bardana-menor (Arctium minus)
Lembro-me de quando era um garoto. Tinha então meus quinze anos de idade. Percebo que nessa fase da vida, em que hoje, após observar com o passar do tempo, e como pai, reparo ser uma etapa na qual o pouco conhecimento acerca da vida, escasso por mais precoce que seja o indivíduo, parece nos dar a certeza de sermos auto-suficientes, preparados e poderosos. Esquecemos mesmo o detalhe de que não damos conta do inerente à vida, a necessidade de comprar nossa subsistência, de gerar e gerir recursos capazes de nos manter. E como somos onerosos nessa idade. Pois bem, estudava em um colégio católico, apesar de não ser, em época alguma da vida, um devoto. Havia anualmente nessa entidade escolar, um dia reservado a uma espécie de prática de grupo, dia em que passávamos a manhã, envolvidos em trabalhos e atividades voltadas ao doutrinamento cristão. Não podíamos faltar no dia reservado a essa prática, recordo ainda hoje do que disse o irmão e orientador religioso na véspera, de que: “- Nem febre de quarenta graus justifica a falta ao Dia da Amizade!”. Dia da Amizade, ou DDA, assim era chamado o dia em que não havia aula, e tentavam adaptar os alunos à doutrina que a escola professava. Na última atividade do dia, dividiram-nos em duplas e entregaram a cada dupla, um pedaço de papel com uma palavra. Cada par de alunos discutiria suas opiniões acerca do termo que lhes fora entregue, e ao final, cada dupla iria expor ao grupo, suas idéias e o que havia sido discutido e refletido sobre o tema. Sempre detestei trabalhos em grupo, até mesmo em dupla. Importava-me em ter o quê entregar, em fazer o trabalho, e quase que sempre, mesmo muito tempo depois, na faculdade, costumava carregar o grupo nas costas, ali não foi diferente, e na época, podia mesmo ser chamado de rebelde, não em questões disciplinares, mas na maneira de enxergar a vida e seus inúmeros detalhes. Nem me lembro quem foi meu parceiro nessa atividade, mas lembro que o pedaço de papel que nos foi entregue continha a palavra “amor”. Quando enfim chegou o momento de expor “nossa”, na verdade minha opinião sobre o significado do vocábulo em questão, o fiz destilando palavras amargas sobre o que disse ser algo muito contraditório ao que realmente deveria significar o verbete. Cheguei a declarar convictamente que o amor naqueles dias, era um termo recheado de mentira. Passou esse tempo, está há muitos anos no passado, tanto aquele dia como aquele garoto.
Hoje percebo que várias palavras têm seus significados deturpados ou mesmo adaptados a contextos que se não lhes altera completamente o sentido, adiciona entendimento específico ao rol existente nos dicionários. E quanto ao amor? Bem, nada mais deturpado e distante do que deveria ser. Realmente faz-se muita confusão e promove-se muito mal tendo o amor como justificativa, colocando o que poderia ser chamado de amor, muito distante do sentimento bom e cheio de virtudes que deveria ser a princípio.
Há quem diga amar outra pessoa, ainda que na verdade sinta um desejo egoísta de interferir no livre arbítrio dessa pessoa, para que sinta uma sensação de poder sobre ela. Há quem despreze aquele que não devolve em padrões idênticos de intensidade o sentimento a que denomina “amor”. E há diversas maneiras de amar, quanto a isso, acredito não haver dúvidas. Não se pode confundir o amor que sente o pai pela filha com o amor que sente um homem por uma mulher. Ou ainda ao que sinta uma pessoa por outra, e que não envolve aspectos de cunho sexual, mas sim aquilo a que chamamos amizade. O sexo por si só, também não se pode confundir com o conceito de amor, apesar de promover afinidade entre pessoas num âmbito não meramente físico e requerer intimidade que as aproxima, é uma necessidade fisiológica que não necessariamente abre um elo de sentimento duradouro. E o amor é crônico, por intenso que é. Não se ama hoje e se esquece amanhã. Mas o amor não impõe obrigações, ninguém é obrigado a amar, e creio eu, não deve ser culpado tão somente pelo amor, deve ser condenado por sua postura frente ao amor. Não confundir amor e obsessão, não se utilizar do amor, caso seja realmente isso o que sente, para impor sofrimento, constrangimento ou qualquer desconforto a outrem. O amor é espontâneo, não pede retorno, não é egoísta e não obriga. Cada forma de sentir algo bom e construtivo que uma pessoa dedique a outra, cada bem-querer, cada desejo sincero de felicidade que uma pessoa nutra por outra, tem o amor em sua composição como ingrediente essencial.
Revendo agora isso tudo, partindo da opinião do garoto aos meus julgamentos pessoais de agora, concluo que o tempo nos aproxima de nós mesmos. E nada como o tempo, para nos prover de exemplos, fatos, referências, para que busquemos a melhor maneira de viver, ainda que aos tropeções. Nossos erros são nossa segunda chance. São os detalhes que nos permitem rever posições e convicções, e nos aproximam do conforto que nossa consciência pode dar. Sei o quão diferente é proferir palavras e agir coerentemente, em concordância com as opiniões expressas. Somos realmente falíveis enquanto seres humanos, mas que isso não sirva de escusa. Que não nos acomodemos para que não matemos nossas crenças, e consigamos dar nossa contribuição.
Rodrigo, 4 de julho de 2009.
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