24 de julho de 2009

Zé Limeira – O Poeta do Absurdo.


Zé Limeira¹ – O Poeta do Absurdo.

"O velho Tomé de Sousa
Governador da Bahia
Casou-se e no mesmo dia
Passou a pica na esposa
Ele fez que nem raposa
Comeu na frente e atrás
E foi pra beira do cais
Aonde o navio trafega
Comeu o Padre Nobrega
Os tempos não voltam mais."

“Eu me chamo Zé Limeira
Da Paraíba falada,
Cantando nas Escritura,
Saudando o pai da coalhada,
A lua branca alumia,
Jesus, José e Maria,
Três anjos na farinhada”.

“Uma véia gurizada
Pra mim já é fim de rama,
Um véio Reis da Bahia
Casou-se em riba da cama,
Eu só digo pru dizê,
Traga o Padre pra benzê
O suvaco da madama”.

“Jesus foi home de fama
Dentro de Cafarnaum,
Feliz da mesa que tem
Costela de gaiamum,
No sertão do cariri
Vi um casal de siri
Sem comprimisso nenhum”.

“Napoleão era um
Bom capitão de navio,
Sofria de tosse braba
No tempo que era sadio,
Foi poeta e demagogo,
Numa coivara de fogo
Morreu tremendo de frio”.

“Meu verso merece um rio
Todo enfeitado de coco,
Boa semente de gado,
Bom criatoro de porco,
Dizia Dom Pedro Segundo
Que a coisa melhor do mundo
É cheiro de arroto choco”.

“São Pedro, na sacristia,
Batizou Agamenon,
Jesus entrou em Belém
Proibindo o califom,
Montado na sua idéia,
Nas ruas da Galiléia
Tocou viola e pistom”.

“Quando Jesus veio ao mundo
Foi só pra fazê justiça:
Com treze ano de idade
Discutiu com a doutoriça,
Com trinta ano depois,
Sentou praça na puliça”.

“Cantador pra cantar com Limeirinha
É preciso ser muito envernizado,
Ter um taco de chifre de veado
E saber decorado a ladainha,
Ter guardado uma pena de andorinha,
Condenar pra sempre o carnaval,
Guardar terra de fundo de quintal
E é preciso engrossar o pau da venta,
Beber leite de peito de jumenta,
Ediceta, pei-bufo, coisa e tal”!

¹ Orlando Tejo
* Sítio Tauá, Teixeira, PB – 1886 d.C
+ Teixeira, PB – 1954 d.C
Zé Limeira, conhecido como o Poeta do Absurdo.
A cidade onde nasceu , Teixeira, estado da Paraíba, foi o principal reduto de repentistas no século XIX e onde a viola teria sido usada pela primeira como instrumento de cantoria lá pelos idos de 1840. Não há registro de sua voz. Fitas de pesquisadores que gravaram algumas de suas cantorias, emboladas e desafios, desapareceram ou se deterioraram. O que resta de sua poesia de improviso, está registrado em cordéis e em livros, graças a tradição oral.

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