10 de julho de 2009

Um sonho num sonho

Este beijo em tua fronte deponho!
Vou partir. E bem pode, quem parte,
francamente aqui vir confessar-te
que bastante razão tinhas, quando
comparaste meus dias a um sonho.
Se a esperança se vai, esvoaçando,
que me importa se é noite ou se é dia...
ente real ou visão fugidia?
De maneira qualquer fugiria.
O que vejo, o que sou e suponho
não é mais do que um sonho num sonho.


Fico em meio ao clamor, que se alteia
de uma praia, que a vaga tortura.
Minha mão grãos de areia segura
com bem força, que é de ouro essa areia.
São tão poucos! Mas, fogem-me, pelos
dedos, para a profunda água escura.
Os meus olhos se inundam de pranto.
Oh! meu Deus! E não posso retê-los,
se os aperto na mão, tanto e tanto?
Ah! meu Deus! E não posso salvar
um ao menos da fúria do mar?
O que vejo, o que sou e suponho
será apenas um sonho num sonho?


Edgar A. Poe

2 comentários:

  1. Gosto dele. Quando decidi postar "Um sonho num sonho" de Poe, o fiz procurando fugir do "carro-chefe", nesse caso particular, "O corvo", aquilo que percebo quando nos vemos induzidos a associar uma parte à obra do artista, mesmo sem conhecer nem uma parte mínima de sua obra. Como a música que toca na rádio para vender um CD, que aparentemente é comprado apenas e tão somente por aquela música. Ou os livros dáticos de literatura, que em minha época, sugeriam, ainda que inconscientemente, a associação Augusto dos Anjos e "Versos Íntimos". Conheço quem desinteressou-se por "Eu e outras poesias", apenas por essa associação. Obrigado pelo comentário, se me permite, sugiro que leia o post "Amor x Olhar".

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